15 novembro 2013

Hoje os tempos estão mudados
Mal vai para quem trabalha
Sai das tuas tamanquinhas
E luta contra o canalha
Zeca Afonso

14 novembro 2013

O Mercado Pode Tornar-se uma Ditadura 

A diferença (entre a ditadura e o capitalismo) é que não é a ditadura como nós conhecemos. É o que eu chamo de «capitalismo autoritário». A ditadura tinha cara, e nós dizíamos é aquela, ou aqueles militares, o Hitler, o Franco, o Pinochet, mas agora não tem cara. E como não tem cara não sabemos contra quem lutar. Não há contra quem lutar. O mercado não tem cara, só tem nome. Está em toda a parte e não podemos identificá-lo, dizer «és tu». Mesmo as pessoas que lutaram contra a ditadura, entrando na democracia acham que não têm mais que lutar. E os problemas estão todos aí. O mercado pode tornar-se uma ditadura.
José Saramago, in 'O Globo (1999)'

24 outubro 2013

Esta gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova

E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa

De um tempo justo

Sophia de Mello Breyner, in “Geografia"

17 outubro 2013

O Roubo do Presente
Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias borderline enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público.
Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país.
José Gil, (in revista Visão de 20/12/2012)

13 outubro 2013

Sou um pouco ...

Sou um pouco de todos que conheci... Um pouco dos lugares a que fui... Um pouco das saudades que deixei... Sou muito das coisas que gostei... Entre umas e outras errei... Entre muitas e outras... Conquistei!

Ramon Hasman

01 outubro 2013

A Culpa

A culpa é do pólen dos pinheiros
Dos juízes, padres e mineiros
Dos turistas que vagueiam nas ruas
Das strippers que nunca se põem nuas
Da encefalopatia espongiforme bovina
Do Júlio de Matos do João e da Catarina
A culpa é dos frangos que têm HN1
E dos pobres que já não têm nenhum  
A culpa é das prostitutas que não pagam impostos
Que deviam ser pagos também pelos mortos
A culpa é dos reformados e desempregados
Cambada de malandros feios, excomungados
A culpa é dos que têm uma vida sã
E da ociosa Eva que comeu a maçã
A culpa é do Eusébio que já não joga a bola
E daqueles que não batem bem da tola
A culpa é dos putos da casa Pia
Que mentem de noite e de dia
A culpa é dos traidores que emigram
E dos patriotas que ficam e mendigam
A culpa é do Partido Social Democrata
E de todos aqueles que usam gravata
A culpa é do BE do CDS e do PCP
E dos que não querem o TGV 
A culpa até pode ser do urso que hiberna

Mas não será nunca de quem governa.  

Recebido por e-mail; Autor não identificado

29 setembro 2013

somewhere i have never travelled, gladly beyond

somewhere i have never travelled,gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands

28 setembro 2013

No one can make you feel inferior without your consent
Eleanor Roosevelt

22 agosto 2013

O prazer não produz o acto, porque este pode realizar-se sem ele. O prazer é pelo contrário a forma de se acrescentar ao acto um culminar, e ao mesmo tempo algo sem o qual o acto não seria perfeito.
Assim, segundo Aristóteles aos homens na força da idade se acrescenta a força da juventude.
A perfeição do prazer é um luxo e a atracção universal do prazer é apenas o auge.
Como escreveu Kant, a adição do prazer torna o “bonum supremum” em “bonum consumatum”

23 julho 2013

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas, percebendo que faltam poucas, roeu o caroço
Já não tenho tempo para lidar com a mediocridade.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talento e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias, que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareações de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços , não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
Mário Andrade  

16 julho 2013

Só havia três coisas sagradas na vida: a infância, o amor e a doença.
Tudo se podia atraiçoar menos uma criança, o ser que nos ama e um enfermo.
Em todos estes casos, a pessoa esta indefesa.

Miguel Torga

Direito de olhar

Aprendi que um homem só tem direito a olhar um outro de cima para baixo para ajuda-lo a levantar-se.

Gabriel Garcia Marques

Mediocridade

Uns nascem mediocres, outros alcançam a mediocridade e outros ainda, têm a mediocridade a subjugá-los.

Joseph Heller, 1961

14 julho 2013

Uma das últimas actuações do norte americano George Carlin (1937-2008); foi humorista, comediante de stand-up, ator e autor, vencedor de cinco Grammys

Se alguém diz a verdade, pode estar certo de que será descoberto, mais cedo ou mais tarde

Oscar Wilde

02 julho 2013

Veillir c'est organiser
sa jeunesse au cours des ans

C'est mûrir mille jeunesses
par étés et par autonnes

Tenir son vol assez haut
pour que l'aile y ait un but

C'est ruiner l'ombre quotidienne 
sur des sommets perpétuels

C'est faire honneur à l'avenir

Paul Eluard - Poémes ininterrompues,1946

Occupy

As pessoas estão a despertar e a ocupar as ruas. Bloqueiam pontes e paralisam portos. Marcham nas ruas, formam grupos de interesses, criam os seus próprios  meios de comunicação, dizem finalmene o que têm a dizer e estão por fim a ser ouvidas. Os protestos e a desobediência civil, são actualmente o aspecto exterior em constante evoluçõ de algo mais profundo e poderoso: uma  sublevaçõ pública em expansão que tem por principais armas a receptividade, a democracia e a acção directa pacífica . É o que está em curso desde Setembro de 2011 e que prossegue neste momento.

Noam Chomsky

31 maio 2013

Na minha próximo vida, quero viver de trás para a frente.
Começar morto, para despachar logo o assunto.
Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor, a cada dia que passa.
Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem  o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promiscuo.
Depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer.
Por fim, passo nove meses flutuando num “spa” de luxo com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior, cada dia que passa, e depois – “Voilá!” – desapareço num orgasmo.

Woody Allen

29 maio 2013

Portugal - 




Oh muse ma complice
Petite soeur d’exil
Tu as les cicatri ces
D’un 21 avril

Mais ne sois pas sévère
Pour ceux qui t’on déçue
De n’avoir rien pu faire
Ou de n’avoir jamais su

A ceux qui ne croient plus
Voir s’accomplir leur idéal
Dis leur qu’un oillet rouge
A fleuri au Portugal

On crucifie l’Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans l’oubli

Aux quatre coins du monde
Des frères ennemis
S’expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit

A ceux qui ne croient plus
Voir s’accomplir leur idéal
Dis leur qu’un oillet rouge
À fleuri au Portugal

Pour tous les camarades
Pourchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les iles

Oh muse ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flame
Qui éclaire l’avenir

A ceux qui ne croient plus
Voir s’accomplir leur idéal
Dis leur qu’un oillet rouge
À fleuri au Portugal

Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S’envole ta chanson

Car enfim le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal

Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C’est peut-être la fin
D’un empire colonial

Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C’est peut-être la fin
D’un empire colonial

George Moustaki      




28 maio 2013

Lei da Simplificação Progressiva

O verdadeiro crescimento é a capacidade demonstrada por uma sociedade de transferir quantidades cada vez maiores de energia e atenção do aspecto material da vida para o aspecto não-material e, assim, evoluir em cultura, potencial de compaixão, sentido de comunidade e força democrática.

Arnold Toynbee, A Study of History, vol.1 (New York: Oxford University Press, 1947, p.198).

27 maio 2013

A farsa como verdadeira tragédia

"Vou interromper o senhor: A pergunta que tenho de lhe fazer é ...O senhor tinha uma ideologia? Esta declaração é sua: "Tenho de facto uma ideologia. A minha avaliação é que o livre mercado competitivo é, de longe, uma maneira sem rival de organização das economias. Tentamos as regulamentações, nenhuma funcionou de forma eficaz"?  É uma citação sua? O senhor teve autoridade para impedir as práticas irresponsáveis de empréstimo que levaram à crise das hipotecas subprime? O senhor foi aconselhado a agir neste sentido por muitos outros? E agora toda a nossa economia está a pagar por isso? O senhor acha que a sua ideologia o levou a tomar decisões que preferiria não ter tomado?"

Palavras proferidas pelo senador norte americano Henry Waxman, e dirigidas ao então presidente do FED (Federal Reserve System) Alan Greenspans, quando este foi chamado ao Congresso, para explicar a sua irresponsabilidade durante a crise financeira de 2009.
Releve-se que os choques económicos liberais das últimas décadas, foram feitos apregoando o fim das ideologias
Contra a "ilusão" de que haveria alternativas possiveis de desenvolvimento e distribuição, ouvimos durante décadas que o mantra de que tais alternativas eram meras crenças ideológicas, pois o livre mercado competitivo era de longe uma maneira sem rival de organização das economias
Eis senão quando as cabeças pensantes do liberalismo (eles mesmo ...),  surgem a justificar-se, afirmando terem uma ideologia.

A principal vitima da crise em andamento não é,  já o capitalismo, mas a própria esquerda, na medida em que começa a estar patente a sua incapacidade de apresentar uma alternativa global viável.
Se a esquerda não cresce a partir da crise, não tem figuras eleitorais com capacidade de ousar, as acções que promove não têm a radicalidade necessária para encontrar novas alternativas ou mobilizar massas descontentes com o rumo da economia mundial.
Esvai-se a experiência revolucionária que animou os momentos decisivos do séc. XX; a força inegável na produção de lutas que mostraram grande capacidade de mover a história , de envolver os individuos no desejo de viver para além das limitações do  que era o seu presente


21 maio 2013

"Nascer" da Lua - 

Lua assomando sobre o miradouro de Mont Victoria, em Wellington, New Zealand.
Mark Gee capturou o video a 2,1 km de distância, do outro lado da cidade
O registo não foi editado, nao houve qualquer tipo de manipulação
Uma beleza  ...
Aceder ao video (clicar)
As long as you are kind and there is love in your heart
A thousand hands will naturally come to your aid
As long as you are kind and there is love in your heart
You will reach out with a thousand hands to help others
David duChemin (Fuji XE-1)

19 maio 2013

Mais umas poucas Dúzias de Homens Ricos - 

Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai.
No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?
Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. 

Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'

Deus? - 

Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é omnipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que é que o mal existe? Não é capaz nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?

Epicuro (340 a.C.-279 a.C.)

18 maio 2013

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba
dura enquanto o povo dorme
quando ele acordar, acaba

António Aleixo

17 maio 2013

Os povos são sujeitas a duras provas.
Mas a austeridade e pobreza não diminuem um povo valoroso. 
Maior dano que a ruina material é sempre o aviltamento moral.
Nenhum povo pode resisitir se lhe destruirem os fundamentos morais que o vinculam ao passado e o projectam no futuro.
A dignidade do povo não se encontra perdida; reprimida, sufocada, inibida, mas não está vencida.

16 maio 2013

Vida - 

Da vida, não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis. Tive tudo o que pude. Amei tudo o que valia. E perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.

autor desconhecido

O Sonho - 

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas

Clarisse Lispector

15 maio 2013

Loucura - 

Gosta principalmente de estar com as crianças, as mulheres e os pescadores. Mesmo de entre os animais selvagens, Cristo prefere os que mais longe estão da prudência vulpina. Por isso preferiu montar num burro, quando poderia, se quisesse, andar sem perigo sobre o dorso de um leão! O Espírito Santo desceu sob a forma de uma pomba e não de uma águia ou milhafre! As Sagradas Escrituras mencionam repetidamente cervos, jumentos e cordeiros. E reparai que Cristo chama suas ovelhas aos que destina à vida eterna. Ora bem, não há animal mais tolo, se acreditarmos no provérbio cabeça de ovelha de Aristóteles, que ele diz aplicar-se  como insulto a todos os ineptos e imbecis. Cristo, no entanto, considera-se o pastor deste rebanho e até mesmo se compraz com o nome de cordeiro; é assim que João o designa: “Eis aqui o cordeiro de Deus!”, e esta é a expressão mais frequente do Apocalipse.
Que significa tudo isto senão que todos os homens são loucos até mesmo os mais piedosos?  O próprio Cristo, para aliviar esta loucura dos homens, e embora fosse sabedoria do Pai, fez-se de certo modo louco, quando se revestiu da natureza humana e se mostrou sob o aspecto de um homem, ou quando se fez pecado para remediar os pecados. Nem os quis remediar senão pela loucura da Cruz, com os apóstolos insensatos e ignorantes, recomenda-lhes vivamente a Loucura, apartando-os da Sabedoria, pois lhes deu por exemplos as crianças, os lírios, o grão de mostarda e os passarinhos, tudo quanto é falho de inteligência e desprovido de razão, tudo quanto vive sem artificio nem cuidado , conduzido tão só pela natureza.
Também os proibiu de se preocuparem com o que deveriam dizer perante os juizes; exigiu que não questionassem o tempo e o momento, e até que não confiassem na sua prudência, para dependerem apenas Dele. Dai que Deus, o Criador do mundo tenha proibido terminantemente que provassem da árvore da ciência, como se a ciência fosse veneno da felicidade.
S. Paulo rejeita-a abertamente, como perniciosa e causadora de vaidade.  S. Bernardo segue-o, sem dúvida, quando, para designar a montanha em que Lucifer tem assento, usa a expressão: montanha da ciência.

Erasmo de Roterdão (1509),  Elogio da Loucura

10 maio 2013

O Futuro - 

O futuro pertence aos que acreditam no poder dos seus sonhos (The future belongs to those who believe in the power of their dreams - Eleanor Roosevelt)
Em 1980 os executivos de topo - CEO - ganhavam 42x mais que o trabalhador comum; em 2001 ganhavam 531x mais
Porque é que no espaço de 20 anos aumentaram o seu salário de forma tão espantosa?
Parece existir entre os executivos de topo, uma crescente cultura que determina que podem ser pagos salários tão ofensivos.
Apoiam-se numa vaga noção cultural dos que exploram, de que as economias competitivas exigem recompensas excepcionais para os bem sucedidos. Assim, o capitalismo assume as qualidades não só de um sistema económico, mas também de um código moral.
A cada minuto morrem 18 crianças vitimas de fome ou de doenças tratáveis; 27 000 crianças por dia...
Custa mais ou menos 400 dólares salvá-las

Maio 68 - 

A importância de Maio 68 residiu no facto de ser o contrário do que os comunistas tinham declarado ser a forma correcta de fazer a revolução:
Não aqui, mas noutro local, Cuba, Vietname.
Não agora, mas amanhã, no futuro.
Não realizada pelas pessoas, mas pelos comunistas, pelos quadros nomeados.
Em vez dísso os participantes de Maio 68 declararam: AQUI, AGORA, NÓS

09 maio 2013

Taxa Tobin - 

"Hoje, em muitos países, especialmente em África, novas gerações estão a chegar ao poder, gerações muito bem informadas, que frequentaram universidades no país ou no estrangeiro. Existe uma classe média que quer viver como toda a gente, que está farta da corrupção, como toda a gente no mundo.
Portanto, chegamos a um momento em que muitos paises , trinta anos após as independências, desejam ter regimes que respeitem os princípios da ordem democrática. Dito isto, sofrem por não terem meios. Meios para construir escolas, casas , meios para tratar doentes, etc. 
Qual é hoje a fonte principal de riqueza no Mundo?
São as operações da Bolsa. É aí que a maior parte das trocas se realiza. Todos os dias mudam de mãos cerca de 1500 biliões de dólares. Todos os dias. Se compararmos isto com a economia real, com aquilo que se produz, com aquilo que se fabrica, os produtos concretos representam 1% do volume do que se faz em matéria de operações na Bolsa, de transacções monetárias. Portanto, a reflexão feita por um norte-americano, prémio Nobel da Economia, James Tobin, é, uma vez que estas operações se produzem, o facto de se produzirem representar um perigo para o equilibrio do sistema, pois elas dão-se sem qualquer taxação. Enquanto que quando vamos comprar qualquer coisa, quando vou à padaria comprar um pão pago um imposto sobre o valor acrescentado, se comprar um bilião de dólares, não pagp imposto e isso não é normal. Tobin diz, portanto, que se comprarem divisas, por exemplo - limitemo-nos aos câmbios - quando comprarmos divisas, quando vendermos iénes ou comprarmos dólares, marcos, etc., paguemos um pequeno imposto: 0.1%. Portanto não é anti-mercado, não afectará a Bolsa, é apenas uma pequena taxa.
E esta pequena taxa vai, em primeiro lugar travar as transacções, pois elas fazem-se frequentemente a crédito, e travar as transacções é bom contra a especulação. E, em segundo lugar, permitirá criar um fundo que possibilitará a recolha de uma média anual de 350 biliões de dólares . As Nações Unidas calcularam que se constituisse um fundo deste valor, em cinco anos - em cinco anos! - a grande miséria que reina no planeta seria suprimida. Haveria escolas para todos, médico e dispensários para todos, casas para todos, e seria uma mudança radical para a Humanidade"

Ignacio Ramonet, entrevista a Diana Andriga, Set98

Pobreza - 

Vivemos um período em que a visibilidade da pobreza é menos clara que antes. Primeiro, porque os media nem sempre se interessam por esse aspecto das coisas. Mas, se quisermos, podemos vê-la.

Compensar a penúria de terras aráveis - 

Em Novembro de 2008, a Daewoo Logistics na Coreia do Sul, anunciava que concluira com Madagáscar um arrendamento por noventa e nove anos de cerca de trezentos mil hectares de savana, equivalente a quase metade das terras aráveis da ilha. A Daewoo planeia dedicar mais de três quartas partes das terras arrendadas ao cultivo do milho, usando a restante área para a produção de óleo de palma, um produto da maior importância no mercado global dos biocombustíveis. Mas esta parte é apenas a porção emersa do iceberg: várias firmas europeias, nos últimos dois anos adquiriram também direitos que lhes permitem usar vastas áreas de terra para a produções agro-alimentares e de biocombustíveis – tal é, entre outros o caso da companhia britânica Sun Biofuels, que explora como os referidos propósitos plantações na Etiópia, em Moçambique e na Tanzânia. O solo fértil de África atrai do mesmo modo certos países ricos do Golfo Pérsico, que, contando com grandes extensões desérticas, se vêm obrigados a importar a maior parte dos géneros alimentares. A verdade é que, embora Estados tão ricos possam pagar sem problemas as importações de bens agrícolas de consumo, os sobressaltos dos mercados globais dos produtos alimentares têm vindo a intensificar as suas preocupações em vista de se garantirem fontes de provisões seguras.
Mas qual é então o incentivo que move a outra parte, constituída por paises africanos assediados pela fome e cujos agricultores não dispõem das ferramentas necessárias  nem das  infra-estruturas – fertilizantes, combustíveis, transportes - que lhes permitam uma produção eficaz e a colocação das suas colheitas no mercado?
Os porta-vozes da Daewoo afirmam que o acordo celebrado beneficiará também Madagáscar, não só porque as terras arrendadas não estavam a ser utilizadas, mas também por que,
… embora a Daewoo tencione exportar o rendimento da terra, … tenciona investir cerca de 6 biliões de dólares ao longo dos próximos 20 anos na construção das instalações portuárias, estradas, centrais produtoras de energia, sistemas de irrigação cujo conjunto é necessário ao desenvolvimento da sua actividade na ilha, criando assim milhares de postos de trabalho que acolherão muitos desempregados do pais.
Os empregos criados ajudarão a população de Madagáscar a poder dispor de dinheiro para comprar géneros alimentares, ainda que estes tenham de ser importados.
O circulo da subordinação pós-colonial volta a fechar-se, e a dependência alimentar só pode tender a exacerbar-se.

Slavoj Zizek, Da Tragédia à Farsa, Lisboa, Relógio d´Água Ed., 2009

08 maio 2013



A felicidade exige valentia -

“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vitima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma critica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo …”
Fernando Pessoa 


Os culpados -

“As trevas são, sem dúvida, profusas na densa selva congolesa – mas as suas causas residem, noutros lugares, como as luxuosas salas de reuniões dos nossos bancos e das nossas empresas de tecnologia avançada.
Para despertarmos deveras do “sonho dogmático”(como diria Kant) do capitalismo e  reconhecermos esse outro verdadeiro coração das trevas, deveríamos  reaplicar à nossa situação a interrogação de Brecht na sua Ópera dos Três Vinténs: “O que é o assalto a um banco comparado com a fundação de um banco?” O que é o roubo de dois mil dólares, que vale a quem o faça uma pena de prisão, comparado com o tipo de especulação financeira que despoja dez milhões de pessoas das suas casas e poupanças, mas cujos autores são recompensados com um auxilio estatal de sublime grandeza? O que é um senhor da guerra congolês comparado  com um presidente de conselho de administração ocidental, esclarecido e dotado de sensibilidade ecológica? Talvez José Saramago tivesse razão quando numa crónica de jornal ainda recente, propunha que os grandes gestores da banca e outros responsáveis pela crise financeira global fossem tratados como autores e crime contra a humanidade, a julgar pelo tribunal de Haia.”

Slavoj Zizek, Viver no fim dos tempos, Lisboa, Relógio d'Água, 2010

05 maio 2013

De Blaise Pascal - 

"Que l'homme contemple donc la nature entière dans sa haute et pleine majesté, qu'il éloigne sa vue des objets bas qui l'environnent. Qu'il regarde cette éclatante lumière, mise comme une lampe éternelle pour éclairer l'univers, que la terre lui paraisse comme un point au prix du vaste tour que cet astre décrit et qu'il s'étonne de ce que ce vaste tour lui-même n'est qu'une pointe très délicate à l'égard de celui que les astres qui roulent dans le firmament embrassent. Mais si notre vue s'arrête là, que l'imagination passe outre; elle se lassera plutôt de concevoir, que la nature de fournir. Tout ce monde visible n'est qu'un trait imperceptible dans l'ample sein de la nature ... "

“Qui se considérera de la sorte s'effrayera de soi-même, et, se considérant soutenu dans la masse que la nature lui a donnée, entre ces deux abîmes de l'infini et du néant, il tremblera dans la vue de ces merveilles; et je crois que sa curiosité, se changeant en admiration, il sera plus disposé à les contempler en silence qu'à les rechercher avec présomption. Car enfin qu'est-ce que l'homme dans la nature ? Un néant à l'égard de l'infini, un tout à l'égard du néant, un milieu entre rien et tout. Infiniment éloigné de comprendre les extrêmes, la fin des choses et leur principe sont pour lui invinciblement cachés dans un secret impénétrable, également incapable de voir le néant d'où il est tiré, et l'infini où il est englouti.”


Extractos de Les pensées de Pascal




04 maio 2013

Viver com sabedoria - 

Vive a tua vida de forma que o medo da morte nunca possa entrar em teu coração.
Nunca incomodes ninguém por causa de tua religião.
Respeita os outros, em seus pontos de vista, e exije que eles respeitem os teus.
Ama a tua vida, aperfeiçoa a tua vida,embeleze todas as coisas na tua vida.
Procura que a tua vida seja longa e ao serviço do teu povo.
Prepara uma canção fúnebre nobre para o dia em que atravessares a grande passagem.
Dá sempre uma palavra ou sinal de saudação quando encontrares ou  cruzares com um estranho num local ermo.
Demonstra respeito a todas as pessoas, mas não se rebaixes a ninguém.
Quando te levantar de manhã, agradeça pela luz, pela tua vida e força.
Dá graças pelo teu alimento e pela alegria de viver.
Se nunca vires nenhuma razão para dar graças, a falha se encontra-se em ti mesmo.
Não toques na aguardente venenosa que transforma os sábios em tolos e lhes rouba as suas visões. Quando chegar tua hora de morrer, não sejas como aqueles cujos corações estão preenchidos pelo medo da morte, e que quando a hora deles chega, choram e rezam por um pouco mais de tempo, que permita viverem as suas vidas novamente, de uma forma diferente.
Canta a tua canção de morte, e morra como um herói, indo para casa.

Tecumseh (lider indigena, tribo Shawnee, 1768-1813)
 


Viver simples - 

Viver simples é ter clareza de propósito. Definir esse propósito é algo individual, e irá determinar o que é relevante para cada pessoa. Dessa forma, a expressão exterior que uma vida simples irá assumir também é algo muito pessoal. Pode-se dizer que a simplicidade integra aspectos interiores e exteriores da vida, transformando-a num todo integrado e pleno de sentido.

Serendipitia - 

 Serendipitia tem origem na palavra inglesa Serendipity, criada pelo escritor britânico Horace Walpone, em 1754, a partir do conto persa infantil Os três príncipes de Serendip. Esta história de Walpole conta as aventuras de três príncipes do Ceilão, actual Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas, cujos resultados eles não estavam procurando realmente. Graças à capacidade deles de observação e sagacidade, descobriam “acidentalmente” a solução para dilemas impensados. Esta característica tornava-os especiais e importantes, não apenas por terem um dom especial, mas por terem a mente aberta para as múltiplas possibilidades.
Ter-se-á então como possivel definição: a aptidão ou faculdade de atrair o acontecimento de coisas felizes e úteis, ou a capacidade de fazer descobertas importantes por acidente ou sagacidade, enquanto se tenta descobrir outra coisa.